O USO DA LÍNGUA, MODERAÇÃO E PRUDÊNCIA

11/12/2008 20:20

“Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10.19). O uso da língua pode ser feito de forma saudável, ponderada e abençoadora, como árvore de vida (Pv 15.4), mas pode, também, ser deturpado e feito de forma prejudicial promovendo destruição e derramando estultícia (Pv 15.2). Tudo aquilo que falamos reflete o nosso caráter, pois a boca fala do que está cheio o coração (Mt 12.34b). O escritor e teólogo Matthew Henry disse, certa vez: “É ruim ter maus pensamentos, pior é expressá-los”.

A Bíblia nos ensina que só conseguiremos ter uma vida abundante e cheia de felicidade se procedermos convenientemente quanto ao uso da língua: não proferindo coisas más, não mentindo (1 Pe 3.10-12). Diz o adágio popular: “É melhor prevenir do que remediar”. Depois que o descuido verbal é cometido (Pv 16.27) sobrevém ao incauto, inevitavelmente, um sentimento de frustração, remorso e angústia.

Aquele que mantém vigilância sobre a língua (não falando mal de quem quer que seja, não murmurando, não “fofocando”, não agredindo verbalmente), sabe guardar a própria alma da angústia (Pv 21.23). As conseqüências do uso da língua tanto podem gerar vida como morte (Pv 18.21). Se não vejamos:

a) Quando gera vida - A disciplina da língua é uma virtude pertinente àqueles que vivem no Espírito (Gl 5.25) e são guiados pelo Espírito (Gl 5.18).

A nossa língua adquire poder de vida quando pronunciamos palavras de bênçãos (Nm 6.24-26), palavras úteis (Is 52.7), encorajadoras (Js 1.9), de expectativa (Sl 35.27), de fé e esperança (Lm 3.22-24) e palavras sobre Jesus, sobre o amor de Deus e sobre a Bíblia (Jo 3.16).

b) Quando gera morte - A língua que fere e destrói provém de corações vazios, de pessoas descuidadas, tolas, críticas, preconceituosas e pecadoras (Sl 5.9). A língua maldosa é como uma fagulha que o diabo transforma em grande incêndio para destruir vidas e causar enormes prejuízos (Tg 3.6).

Devemos ter muita prudência e empregar diligentemente este órgão importante da fala, pois ele pode estar cheio de peçonha mortal (Tg 3.8), pode ser usado para amaldiçoar os homens (Tg 3.9b) e pode ser usado como um chicote (Jó 5.21).

Existem palavras que causam mais dores do que uma agressão física e provocam verdadeira tortura emocional e psicológica. Há frases mal intencionadas que matam sonhos, arrefecem ânimos e sepultam grandes esperanças.

A VIGILÂNCIA DA LÍNGUA

O meio mais apropriado para a disciplina de nossa língua é viver cheio do Espírito Santo, deixando-se dominar por Ele (Gl 5.25). O ideal é permitir que este Espírito produza em nós o Seu fruto, para que possamos usar nossa língua com sabedoria (Pv 10.31).
Deus nos deu este maravilhoso dom da fala, porém, temos que usufruir desta dádiva com muita responsabilidade, serenidade e bom senso. Quanto menos falarmos e, de preferência, na hora certa, maiores serão as nossas chances de acertar. Diz a bíblia que: “Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio” ( Pv 17.28). Em hipótese alguma devemos expressar o nosso pensamento num momento de grande ira (Ef 4.31). Às vezes, movidos por um nervosismo incontido, por algo que surgiu assim repentinamente e desestabilizou nosso estado psicológico, somos levados a dizer algum impropério (Sl 50.19). É preciso muito cuidado e muita vigilância (Sl 120.2).

Devemos, a todo custo, evitar palavras que influenciam negativamente. E ao sermos informados de algo desagradável sobre alguém, a iniciativa mais sensata é orar por esta pessoa, conversar com ela, enfim, ajudá-la fraternalmente. Se nos sentirmos prejudicados por outra pessoa, antes de sentirmos qualquer ojeriza devemos aplicar os ensinamentos de Jesus: amar os próprios inimigos (Lc 6.27,28).

Uma comunicação clara, de forma educada, usando palavras sadias, puras, inteligentes e edificantes pode ser obtida com exercícios contínuos e com uma disciplina apurada através do autocontrole. Devemos sempre lembrar que, para quem está cheio do Espírito Santo, mais importante do que falar em línguas estranhas é dominar e usar adequadamente a língua que já tem (Tg 3.10-12).

AUTO-AVALIAÇÃO DA LÍNGUA

Quantas vezes já paramos para refletir sobre a qualidade daquilo que falamos? O Espírito Santo tem nos inquietado por pronúncias indevidas, ou estamos insensíveis? Devemos meditar sobre isto. O profeta Isaías sentiu profundamente esta situação quando teve a visão do trono de Deus e pôde enxergar sua própria imperfeição, sobretudo quanto às suas palavras impuras e ao meio impuro em que vivia. Aquele profeta, impactado com a visão de Deus, reconheceu seu estado lastimável e exclamou: “Ai de mim, que estou perecendo”. O Senhor purificou os lábios e o coração de Isaías (Is 6.5-7).

Aquilo que plantarmos certamente vamos colher (Gl 6.7,8), inclusive quanto à “semeadura” de nossas palavras. Quantas pessoas incautas tratam o próximo com adjetivações impróprias como: “Você é minha cruz”, “esta casa é um inferno, etc.” Infelizmente isto ocorre até mesmo entre família. Todas estas coisas podem acontecer como forma de maldição por aquilo que foi “profetizado” (Sl 109.17). Devemos levar uma vida isenta de toda maldição (Rm 3.14).

A história nos reserva tristes episódios envolvendo homens que, displicentemente, usaram a língua para ultrajar a divindade e o poder de Deus. Atentemos para estes exemplos: O Rei Senaqueribe, da Assíria, blasfemou ao subestimar o poder de Deus e teve um trágico fim (2 Rs 19. 4,10,37); Golias, apesar de forte e bem protegido, foi derrotado porque usou a língua para afrontar a Deus de Israel (1 Sm 17.45,50).

Um dos construtores do imponente transatlântico Titanic disse, inadvertidamente, que nem Deus afundaria aquele navio - logo na viagem inaugural ele colidiu com um enorme iceberg e naufragou. Um dos líderes do famoso conjunto musical “Os beatles”, disse que seus componentes eram mais conhecidos do que Jesus Cristo - a banda acabou de forma surpreendente e o seu principal líder, Jonh Lennon, foi inexplicavelmente assassinado por um admirador fanático. Com Deus não se brinca (Is 42.8; Jo 12.43; Lv 24.15; At 12.23).

A Bíblia nos diz que o Senhor ouve com atenção quando seus filhos falam uns com os outros (Ml 3.16). Um dia nossas obras serão julgadas (1 Co 3.11-15), e as palavras que semeiam suspeitas e discórdias classificarão as pessoas que as proferirem como uma abominação aos olhos de Deus ( Pv 6.16-19). Lembremo-nos de que, para habitar no Tabernáculo, não devemos aceitar nenhuma afronta contra nosso próximo (Sl 15.1-3).

Entre todas as situações e circunstâncias envolvendo o uso da língua, sem dúvida o momento mais belo e edificante é quando, com humildade e contrição, articulamos palavras para adorar, glorificar, exaltar e, sobretudo agradecer ao Senhor, o dono da fala. Como é prazeroso movimentar nossos lábios para asseverar a majestade de Deus, bendizê-Lo todos os dias e reconhecer Sua insondável grandeza (Sl 145.1-3). Que as nossas palavras sejam agradáveis ao Senhor, nossa rocha e nosso defensor (Sl 19.14).

Este assunto exige muito mais seriedade do que cada aluno possa estar imaginando neste momento. Como tem sido nosso testemunho como cristãos com base na credibilidade e responsabilidade sobre tudo que falamos? Obviamente não são as frases bem elaboradas que utilizamos em nossas pregações que revelam nossa verdadeira personalidade, e, sim, aquelas palavras mais casuais que usamos no dia-a-dia e de forma natural.

No dia do juízo cada pessoa vai prestar conta de toda palavra inútil que falou (Mt 12.36). Tudo que pronunciarmos sem o devido cuidado servirá para julgar nossa culpa ou inocência, isto é, pelas nossas palavras seremos justificados ou condenados (Mt 12.37). Em Romanos 14.11,12 está escrito que diante do Senhor toda língua confessará a Deus, e que cada um dará conta de si mesmo a Deus.

Pr. Elias Garcia - Consultor teológico da revista "Ensinando as Nações" 

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