ELIAS - O PROFETA RESTAURADOR

11/12/2008 20:28

“Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra” (Tg 5.17).
Alguém sabiamente disse, certa vez: “Deus não pergunta sobre nossa capacidade ou incapacidade, mas se estamos à disposição”.

Para que haja uma melhor compreensão quanto à providencial interferência do profeta Elias no contexto histórico desta lição, faz-se necessário enfatizar que o povo de Israel, naquele tempo, passava por um enorme declínio moral (1 Rs 16.29-33). O ímpio rei Acabe, influenciado por Jezabel, sua esposa, dedicava-se à idolatria e a promovia junto ao povo. Ele teve a infeliz idéia de, entre outras coisas, construir um altar a Baal e edificar um poste-ídolo.

Nesse interregno surge, então, o profeta Elias como mandatário do Senhor. É sobre este personagem que refletir.

A MISSÃO DO PROFETA

A intervenção de Elias, cujo nome significa “O Senhor é meu Deus”, aparece, assim, de súbito na história, por ocasião do reinado de Acabe por volta do século IX a.C. Ele foi instrumento de Deus para conscientizar a nação de Israel contra a idolatria a Baal, e reconduzi-la à fidelidade ao verdadeiro Deus.

A primeira mensagem que Elias transmitiu a Acabe, o pior rei de Israel, foi incisiva e lacônica: “Tão certo como vive o Senhor... que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra”. Após esta “indesejada apresentação” para o rei, o profeta precisou ocultar-se por ordem do Senhor. Durante o período de fuga, Elias aprendeu algumas lições vitais sobre a proteção e o poder de Deus (Is 43.2). Tais lições viriam a ser importantes para sua condição de profeta e também para o sucesso de sua missão.

A SÓS COM DEUS

Tão importante quanto obedecer ao Senhor no desempenho de uma tarefa, é atender à orientação divina para se recolher e ficar a sós com Deus. O Senhor Jesus, muitas vezes, retirava-se, distanciava-se das multidões e do furor que seu ministério causava, para estar com o Pai celestial (Mt 14.23; Lc 5.16). O profeta Elias foi orientado por Deus a esconder-se junto à torrente de Querite, fronteira do Jordão (1 Rs 17.2,3).

A torrente de Querite fornecia água para Elias, e os corvos lhe traziam pão e carne - pela manhã e ao anoitecer. Podemos considerar tais provimentos como o primeiro dos muitos milagres realizados no ministério de Elias. Aquilo foi, realmente, um prodígio. Em qualquer circunstância, precisamos crer na providência divina, pois o Senhor é poderoso para fazer além do que pedimos ou pensamos (Ef 3.20).

O Ribeiro de Querite era uma corrente que só era ativada em tempos chuvosos. Com o fim do suprimento de água, por causa da seca intensa, veio outra vez a palavra do Senhor a Elias dizendo: “Levanta-te, e vai a Sarepta”, e assim o profeta precisou mudar novamente seus planos. Deus estava nutrindo a fé de Elias, para os embates de ordem espiritual que ainda estavam por vir.

Às vezes, em nossas vidas, surgem fatos estranhos para nos motivar a um novo posicionamento. Há o fim de uma etapa para o começo de outra (Cl 3.10). O certo é que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28).

Em Sarepta, para onde se dirigiu o profeta, novas experiências milagrosas aconteceram: a multiplicação da farinha na panela, do azeite na botija e a ressurreição do filho da viúva. Fatos que convenceram, efetivamente, àquela mulher acerca de Elias: “Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor, na tua boca, é verdade” (1 Rs 17.24).

O NECESSÁRIO CONFRONTO

O Senhor falou novamente a Elias, ordenando-lhe que procurasse o rei Acabe para informá-lo do fim da seca (1 Rs 18.1). Assim que Elias e Acabe se encontraram, o profeta foi taxado de “perturbador de Israel”. Nesta oportunidade, o profeta revela que não ele, mas o próprio Rei e sua casa eram os motivos de tanta calamidade, porquanto deixaram os mandamentos do Senhor e seguiram os baalins.

Sempre foi e continua sendo assim. As pessoas, cegas pelo pecado, gostam de usar a “transferência de culpa” a fim de se eximirem do próprio erro (Gn 3.12,13). O pecador nunca admite ser o perturbador do próprio íntimo e do meio em que convive.

O profeta repreendeu a Acabe lançando-lhe um desafio, algo parecido com um duelo onde, na presença de todo povo e mais 450 profetas de Baal e 400 de Asera, seria proposta uma prova decisiva. Parecia até uma concorrência desleal, porém, por trás de tudo, havia o grande mistério da equação divina: Deus + um = maioria (Dt 20.4). E lá no Monte Carmelo, num clima de suspense, Elias aproveita o ensejo e, diante de todos, provoca um instante de reflexão: “Até quando hesitareis entre dois pensamentos...”? Existem, ainda hoje, muitas pessoas que vivem “em cima do muro”, coxeando em busca de estranhas divindades e deuses falsos (Js 24.15; Lc 16.13).

Conforme havia sido combinado, montaram um altar para oferecer sacrifícios. Os profetas de Baal empreenderam, então, todos seus esforços na tentativa de serem atendidos. Invocaram. Gritaram. “Berraram”, de manhã ao meio-dia. Elias, ironicamente, instigava-os ao limite do esforço. Porém, ao final daquela vã tentativa, não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma (1 Rs 18.29). Fiascos semelhantes continuam a acontecer em nosso tempo, principalmente através da mídia, que tenta de todas as formas dar credibilidade a adivinhos, videntes, pais-de-santo, etc., (Mt 7.15; 24.24). Quanta pobreza! Quanto engodo!

Chegou, então, a vez de Elias agir. Ele se dirigiu a Deus e orou, dizendo: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifesta-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua palavra fiz todas estas coisas” (1 Rs 18.36).

No mesmo instante, caiu um fogo e consumiu tudo: o sacrifício, a lenha, a poeira que havia sobre o altar, a água que estava nas trincheiras e sobre o próprio altar. Petrificados, ante o impacto de tão impressionante cena, o povo chega, finalmente, ao verdadeiro entendimento: “Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus”.

NOVAS EMOÇÕES

Após esses acontecimentos, Elias recomendou a Acabe que voltasse logo para não ser surpreendido pela tão esperada chuva. E assim, depois de longo período de estiagem e fome, os céus se enegreceram com nuvens e vento, trazendo uma forte chuva. Vale a pena lembrar sobre o valor da oração de um justo (Tg 5.16).

Apesar de tantas experiências interessantes, o profeta achou por bem fugir do juramento de morte que Jezabel lhe fizera. A atitude maldosa daquela mulher surgiu em função da perda de todos seus profetas - aqueles que viviam às expensas da família real e que, portanto, eram profissionais convenientes à vida palaciana.

A partir daí, Elias passou a enfrentar muitas lutas e conflitos. Procurou segurança no deserto onde, debaixo de um zimbro, desanimado, desejou a morte. Depois, foi para uma caverna lá no monte Horebe. O profeta, de volta à experiência da fuga, parece não estar ainda curado espiritual e psicologicamente. Ele era um homem da fé, mas era um ser humano igual a nós, um vaso de barro (Tg 5.17). Foi preciso que o Senhor, após mostrar a ocorrência de fenômenos impactantes – um forte vento, um terremoto e um fogo - falasse a ele com uma voz mansa e delicada.

Depois de tantas demonstrações de intimidade e afinidade com Deus, uma caverna não seria, definitivamente, o lugar ideal para o experiente profeta. Ali, ele poderia continuar nutrindo seus temores, dissabores e decepções. Hoje, nossas cavernas simbolizam nosso estado depressivo, nossa crise existencial e nosso desânimo (Jo 16.33).

Quantas pessoas se acovardam permanecendo, reclusas, em suas cavernas psicológicas, sufocando suas mazelas no recôndito da alma. Sentem-se inseguras e desencorajadas para enfrentar, com dignidade, os embates do viver (Sl 6.2). E o nosso Deus está a dizer aos “escondidos” de hoje: “Que fazes neste ambiente impróprio, longe da minha obra, da minha igreja e longe da minha seara”? Prossigamos com fé, pois há muito a fazer (Js 1.9). Coragem!

O profeta Elias, mais uma vez, foi instado por Deus a prosseguir em sua jornada. Afinal, havia coisas importantes à frente, como a unção de Hazael rei sobre a Síria, de Jeú rei sobre Israel e de Eliseu como profeta e seu sucessor (1 Rs 19.15,16). Entretanto, algo que nos comove na história diz respeito ao seu traslado milagroso ao céu (2 Rs 2.11). Foi uma chancela divina que honrou aquele grande homem de Deus, pela posição inarredável contra o pecado da idolatria e da apostasia.

Pr. Elias Garcia - Consultor teológico da revista "Ensinando as Nações" 

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